“O setor energético português enfrenta, claramente, um ponto de viragem neste contexto em que, de facto, o processo de transição energética já se iniciou e parece ser, por fim, uma prioridade governamental”. Este é o ponto de situação que António Cunha Pereira, CEO da ECOINSIDE, faz, em entrevista à Ambiente Magazine, sobre o setor energético em Portugal.
Segundo o empresário, a mudança de paradigma é visível, desde logo, na aposta que tem sido feita ao nível da “promoção da eficiência energética pela indústria e entidades públicas”, de que é um “excelente exemplo a iluminação pública”. Também, a “maior procura de eletricidade produzida com recurso a fontes renováveis” e a “consequente diminuição drástica da dependência das fontes de origem fóssil”, com particular enfoque. E, em especial em Portugal, que conta com uma “exposição solar privilegiada”, assim como, o solar fotovoltaico que se apresenta como uma “enorme potencialidade para a economia nacional e de desenvolvimento do setor”, refere.
Relativamente a desafios, António Cunha Pereira começa por destacar as áreas e terrenos que estão ser utilizados para a produção de energia solar: “Portugal é um país pequeno e, por isso, a opção de apostar exclusivamente na instalação de centrais de produção de energia solar fotovoltaica em zonas agrícolas, conforme o previsto nos leilões de energia solar fotovoltaica, traduz-se em limitações na capacidade produtora do nosso país, pela sua dimensão”. Depois, um outro desafio tem que ver com a “capacidade atual e diminuta da rede de transporte de eletricidade para transportar toda potência de que Portugal necessita e necessitará face à eletrificação da economia”, aponta. Por fim, estão as “recém-criadas Comunidades de Energia Renovável (CER), cuja criação é um passo importante no rumo à transição energética”, mas ainda “enfrenta muitas questões ao nível da implementação que precisam de ser ultrapassadas rapidamente, desde as ligações entre as diferentes unidades de solar fotovoltaico, a distribuição da energia produzida e entre outros aspetos”, destaca.
Sendo a pobreza energética um dos desafios com os quais Portugal está confrontado, a renovação ou a remodelação do edificado é uma das soluções mais defendidas. A questão que se coloca é: “Será suficiente?”. Para o CEO da ECOINSIDE, trata-se de um “passo fundamental” para combater a pobreza energética, dotando os edifícios portugueses de “melhor isolamento térmico”, tanto ao nível das “paredes” como dos “tetos”, ou “optando por colocar janelas mais eficientes energeticamente”. Ainda assim, não basta: “Não nos devemos ficar por aqui, mas antes combinar associar estas medidas à instalação de unidades para autoconsumo (UPACs), em regime de Comunidades de Energia Renovável (CER), que trarão uma redução significativa dos custos da energia e um significativo impacto positivo ao nível ambiental”.
António Cunha Pereira não tem dúvidas de que a transição energética e climática é hoje uma prioridade para a indústria. E há duas razões que o comprovam: “A necessidade de ser mais competitiva e por imposição dos clientes”. Aliás, “as empresas que embarcarem, desde já, na transição energética estarão mais preparadas para o futuro”, quer para “responder às exigências dos consumidores”, quer para “conseguirem mais oportunidades de negócio”, precisa. No entanto, há ainda passos que precisam de ser dados: “As empresas precisam, ainda, de apostar em massa na instalação de UPACs, apostando fortemente no recurso a energias renováveis, bem como na eletrificação das suas frotas”, afinca.
Atrasos que podem levar ao adiamento da decisão de investimento das empresas
As grandes apostas que o país deve privilegiar no sentido de mitigar os efeitos das alterações climáticas e, assim, alcançar as metas às quais está comprometido, assentam na “emissão de menos gases com efeitos de estufa” que, segundo o empresário, deve residir na “instalação massiva e desenvolvimento constante da utilização da energia solar e eólica”, ao mesmo tempo que se “aposta numa produção descentralizada e mais próxima dos locais de utilização dessa mesma energia” e, também, através da “constituição a larga escala e por todo o país de CER”. No caso das indústrias de alta intensidade energética, como as cimenteiras, cerâmicas ou siderurgias que não conseguem descarbonizar apenas a partir da eletricidade de fonte renovável, a aposta pode também centrar-se no recurso ao hidrogénio: “Uma tecnologia que vai necessitar de muito investimento e pesquisa para que se possa tornar acessível, mas que, certamente, trará muitas vantagens ao nível ambiental num futuro próximo”, afirma.
Do lado do Governo, aquilo que não parece estar a correr tão bem, segundo o CEO da ECOINSIDE são os “anúncios sucessivos de medidas de apoio que virão no futuro, mas que demoram muito a chegar ao terreno e a estar disponíveis para as empresas”. São atrasos que podem levar ao “adiamento da decisão de investimento das empresas” e, dessa forma, “o adiar da transição energética e correspondente descarbonização” da economia: “Isto é particularmente visível neste momento de crise pandémica e de anúncio da chamada bazuca europeia”, atenta.
Como mensagem final, António Cunha Pereira acredita que o futuro é promissor e Portugal está a fazer o seu caminho como país com muito know-how e massa crítica no setor das energias renováveis: “Acredito que o setor da energia será preponderante para o Desenvolvimento Sustentável do país e do mundo”.