Energias Renováveis: Inovação e Descentralização na Transição Energética Europeia

António Cunha Pereira, cofundador e co-CEO da Ecoinside, tem estado há quase duas décadas na linha da frente do desenvolvimento de soluções sustentáveis para o sector das energias renováveis. Com uma formação académica sólida em Química, especializada em Química Ambiental, António Cunha Pereira desempenha um papel essencial na promoção de projetos que visam não só reduzir o impacto ambiental, mas também aumentar a eficiência energética das empresas e das infraestruturas.

Criada em 2006 por António Cunha Pereira e Joaquim Guedes, a Ecoinside é uma empresa portuguesa especializada em ecoeficiência e sustentabilidade ambiental, oferecendo serviços personalizados a instituições e empresas de diversos setores, desde o comércio e serviços até à indústria. Com foco em soluções inovadoras, a Ecoinside aplica tecnologias avançadas na área de Ecoeficiência Corporativa, garantindo reduções significativas nos custos fixos e no impacto ambiental. O objetivo da empresa é promover a transição para uma economia mais sustentável, ajudando os seus clientes a adotar práticas que preservem o meio ambiente enquanto geram valor económico.

Introdução

A transição energética na Península Ibérica está a ganhar ritmo, impulsionada pela descarbonização, eletrificação e pela inovação tecnológica. António Cunha Pereira sublinha a importância de fontes renováveis como a solar e a eólica, bem como a crescente aposta na produção descentralizada para aumentar a eficiência energética. No entanto, esta transformação também traz novos desafios, como o limite da capacidade da energia eólica onshore e a necessidade de explorar alternativas como o eólico offshore. A digitalização, incluindo o uso de inteligência artificial, está a desempenhar um papel crucial ao otimizar processos e melhorar a gestão energética.

Assim, António Cunha Pereira analisa as principais tendências que moldam a transição energética na região, desde o desenvolvimento de tecnologias emergentes até à necessidade de políticas públicas eficazes e soluções inovadoras para enfrentar os desafios ambientais e promover um futuro mais sustentável.

Tendências na Transição Energética da Península Ibérica

Segundo António Cunha Pereira, a Península Ibérica está a liderar um movimento de transição energética focado na descarbonização da economia e na eletrificação dos processos produtivos e da mobilidade, com o objetivo de alcançar emissões líquidas zero até 2050. Ele destaca que esta estratégia se centra nas fontes de energia renováveis, como a solar e a eólica, em contraste com outros países europeus, como a França, que apostam fortemente na energia nuclear. Segundo António Cunha Pereira, em Portugal e Espanha, a energia eólica onshore já atingiu o seu limite de capacidade, o que tem levado ao desenvolvimento de projetos eólicos offshore.

Acredita, ainda, que o crescimento das energias renováveis se tem focado principalmente no setor fotovoltaico, que segue dois caminhos principais: grandes centrais solares e a produção descentralizada. Aponta que as grandes centrais solares têm enfrentado resistência das populações locais, devido à ocupação prolongada de terrenos agrícolas e florestais. Como alternativa, António Cunha Pereira defende a produção descentralizada, que utiliza infraestruturas já existentes, como telhados de edifícios e parques de estacionamento, uma solução mais sustentável e eficiente, próxima dos pontos de consumo.

Na sua visão, este modelo descentralizado poderia satisfazer uma parte significativa das necessidades energéticas do país, sem depender tanto das grandes centrais solares. António Cunha Pereira sublinha que, por exemplo, a radiação solar na área metropolitana do Porto, se fosse plenamente aproveitada, seria suficiente para cobrir grande parte da procura energética nacional. Além disso, estima que, ao expandir esta abordagem para outras zonas urbanas e infraestruturas, como Lisboa e as autoestradas, seria possível atender entre 70% e 80% das necessidades energéticas, reduzindo assim a dependência de outros modelos de produção de energia.

O Papel das Comunidades de Energia Renovável

As comunidades de energia renovável estão a emergir como uma solução essencial para a descentralização da produção de energia e para a redução das emissões de carbono. António Cunha Pereira acredita que estas comunidades representam um avanço importante na otimização de áreas subutilizadas para a produção de energia. Explica que, em muitos casos, existem edifícios com grande capacidade para a instalação de painéis solares, mas com baixo consumo de energia, como acontece em armazéns de logística. A criação de comunidades de energia permite que essas infraestruturas possam partilhar o seu potencial de produção com outras unidades próximas que tenham um consumo energético elevado, mas espaço limitado para produção.

Este modelo, segundo António Cunha Pereira, será fundamental para aumentar a produção de energia renovável, especialmente nas áreas urbanas e industriais, sem depender exclusivamente das grandes centrais. A descentralização da produção também contribui para uma maior resiliência do sistema energético, ao reduzir a dependência de fontes centralizadas e ao permitir que cada comunidade tenha maior autonomia energética.

O Impacto das Tecnologias Emergentes

Embora seja cauteloso ao prever o impacto concreto das tecnologias emergentes, António Cunha Pereira reconhece que a inteligência artificial (IA) terá um papel crucial no futuro das energias renováveis e da sustentabilidade. Menciona que a IA pode automatizar muitos dos processos que hoje dependem de trabalho humano, como a elaboração de projetos de engenharia para centrais de energia renovável. Esta automação poderá libertar tempo para que os engenheiros se concentrem em otimizar os projetos, aumentando a eficiência global.

Admite que ainda é difícil antecipar exatamente o impacto que a IA terá no sector, mas está convicto de que as empresas que não adotarem estas novas ferramentas arriscam-se a perder competitividade. No entanto, sublinha a importância de manter um espírito crítico ao incorporar novas tecnologias, de forma a garantir que estas servem os objetivos das empresas e da sociedade, em vez de serem adotadas cegamente.

Oportunidades e Desafios na Transição Energética

António Cunha Pereira sublinha que um dos principais desafios da transição energética é assegurar que a eletricidade usada nas atividades existentes provém de fontes renováveis, enquanto se eletrificam setores que ainda dependem de combustíveis fósseis, como transportes e aquecimento. A substituição de carros a combustão por elétricos e o uso de bombas de calor são exemplos deste processo de eletrificação. Este caminho, embora desafiante, representa também uma oportunidade para criar um sistema energético mais eficiente e limpo.

No entanto, em indústrias de alta intensidade energética, como a produção de cimento e cerâmica, a eletrificação não é viável, e o hidrogénio verde surge como alternativa. A produção e distribuição deste hidrogénio, que poderá ser feita em grandes centrais ou unidades descentralizadas, apresenta tanto desafios como oportunidades. A criação de infraestrutura para hidrogénio abre portas para o desenvolvimento tecnológico e industrial, com Portugal a posicionar-se como um potencial líder na produção de hidrogénio verde.

Além disso, a eletrificação dos transportes ligeiros está a avançar, mas o transporte pesado e de longo curso poderá depender do hidrogénio. Esta transformação no setor dos transportes representa uma oportunidade para reduzir drasticamente as emissões e modernizar a infraestrutura de mobilidade, criando mercados e empregos ligados às energias renováveis e tecnologias de hidrogénio.

Políticas Públicas e Incentivos para a Sustentabilidade

Na opinião de António Cunha Pereira, a solução para promover o uso de energias renováveis não passa por criar taxas ou mecanismos artificiais de preço, mas por incentivar a adoção natural de tecnologias mais eficientes. Atualmente, as centrais fotovoltaicas já são rentáveis para consumo próprio nas empresas, desde que a energia seja consumida quando é produzida. Contudo, no setor residencial, onde a maior parte da energia é consumida fora do horário de produção solar, surge o desafio de armazenamento.

As baterias, essenciais para acumular energia solar durante o dia e disponibilizá-la à noite, têm vindo a tornar-se mais acessíveis, com uma queda significativa nos preços nos últimos meses. Apesar dessa tendência, ainda não são suficientemente competitivas para tornarem o investimento atraente sem algum tipo de incentivo.

António Cunha Pereira defende que a competitividade pode aumentar através de incentivos fiscais para entidades com menores emissões de carbono, ou por um processo natural em que o aumento dos custos das licenças de emissão de carbono torna o uso de combustíveis fósseis menos atrativo. Com as licenças de emissão cada vez mais caras, tecnologias como as baterias vão ganhar competitividade, permitindo que as empresas e os consumidores finais possam beneficiar de uma produção de energia mais eficiente e sustentável.

António Cunha Pereira é um dos protagonistas da transição energética em Portugal, promovendo uma visão integrada e sustentável para o futuro das energias renováveis. O seu percurso na Ecoinside, bem como a sua abordagem pragmática às novas tecnologias, refletem o equilíbrio entre inovação e sustentabilidade, que será essencial para enfrentar os desafios ambientais e económicos do futuro. A descentralização da produção de energia, o uso de hidrogénio verde e a integração de tecnologias emergentes são algumas das soluções que António Cunha Pereira defende como fundamentais para atingir as metas de descarbonização e garantir um futuro mais sustentável para as próximas gerações.

 

FONTE:

Consulting League

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