Bazuca de ovos de ouro

A “bazuca europeia”, assim designada pelo nosso Primeiro-Ministro, António Costa, parece estar a revelar-se a lufada de ar fresco de que as empresas e a economia necessitam desesperadamente, num momento de crise sanitária, e, agora também, crise económico-financeira iminente. Estes fundos, nada irrelevantes, pela enorme quantia que preveem injetar nas economias europeias – estamos a falar de, no caso
português, mais de 58 mil milhões de euros que chegarão ao país durante 10 anos –, são boas notícias para uma Europa que se pretende
resiliente, estável e robusta e representa, também, boas notícias para Portugal, pelo modo como está a ser planeada a sua distribuição.

Destaco como ponto muito positivo a atribuição de uma quantia avultada destas verbas para a transição climática – a luta mais premente e séria da atualidade. Nesta matéria pretende-se investir na eficiência energética dos edifícios, em particular nos edifícios públicos, uma intenção que não é nova (remonta já a 2011 quando o programa Eco. AP foi lançado) e que até ao momento parece não ter nunca evoluído; na inclusão de metas para a criação de centrais de autoconsumo não só em edifícios residenciais, mas também no setor dos serviços, um passo que me parece ser necessariamente o futuro do solar fotovoltaico, pois, ao aproximar a produção do consumo, conseguimos diminuir drasticamente as perdas energéticas na rede e, por isso, elevar o índice de eficiência energética dos edifícios e, em última instância, das cidades.

Por fim, um último ponto a destacar é a referência, nestes primeiros planos já conhecidos, ao consumo de gases renováveis, como o hidrogénio verde e o biometano, tendo o próprio Ministro do Ambiente, Matos Fernandes, afirmado que “estamos mesmo em condições invejáveis de sermos um grande produtor de hidrogénio verde”.

A aposta em energia verde poderá ser, por um lado, a resposta para a descarbonização da economia e, por outro, para o crescimento
sustentado do setor energético português, podendo inclusivamente passar Portugal a exportar energia. Estes tipos de produção de energia estão, ainda, no entanto, muito pouco explorados e a tecnologia ainda não amadureceu o suficiente para que este paradigma seja tornado realidade para já. No entanto, é, de facto, um bom começo. Não obstante os planos traçados delinearem boas medidas e roteiros com vista à transição climática, é absolutamente fundamental garantir que as verbas disponibilizadas são distribuídas de modo equilibrado entre os
setores público e privado. Esta é a oportunidade de ouro para fomentar o investimento e crescimento económico, para desafiar as empresas a inovar e a serem mais competitivas. Precisamos de sistemas robustos de avaliação da distribuição dos dinheiros da Europa que garantam que estas verbas não são infinitamente alocadas num sistema público muito dilatado, burocrático e que não é, de facto, o motor gerador de receitas para o país. Procuremos, portanto, investir em negócios que geram mais liquidez, mais investimento, e que contribuem para uma economia mais musculada e para um país que se quer na vanguarda da transição energética.

António Cunha Pereira (CEO | ECOINSIDE)

Vida Económica – 21 MAIO 2021

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