O Act4Nature Portugal, lançado pelo BCSD Portugal no Dia Internacional da Diversidade Biológica, a 22 de maio, surge no âmbito do Act4Nature International, movimento criado em França em 2018 pela associação Entreprises pour l’Environnement (EpE), também membro da Rede Global do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD).
“Ao aderir ao Act4Nature Portugal, as empresas afirmam um compromisso importante, num momento de viragem para a biodiversidade a nível internacional, e têm a oportunidade de passar a integrar melhor o capital natural nos seus modelos de negócios e cadeias de valor, algo decisivo para alcançarmos sociedades e economias verdadeiramente sustentáveis, até 2030”, afirma João Wengorovius Meneses, secretário-geral do BCSD Portugal.
Todas as empresas, organizações e instituições que atuem de acordo com a proteção da natureza e da biodiversidade podem demonstrar o seu acordo subscrevendo os compromissos comuns e também estabelecer compromissos individuais de acordo com o seu setor de atividade. Porque o objetivo é chegar ao maior número possível de subscritores e ampliar os esforços para reverter a perda de biodiversidade e a degradação dos ecossistemas e dos serviços que estes prestam a nível global.
O lançamento da iniciativa coexistiu com a apresentação da Estratégia de Biodiversidade da União Europeia (UE) para 2030. Uma estratégia que a presidente da Comissão Europeia (CE) quer levar agora mais além: “Precisamos de um acordo como o de Paris para a biodiversidade”, afirmou Ursula von der Leyen numa sessão virtual sobre o “Estado do Mundo”, na Semana da Agenda de Davos 2021.
15 empresas de diferentes dimensões e setores
A iniciativa lançada pelo BCSD com o objetivo de “mobilizar e incentivar as empresas a proteger, promover e restaurar a biodiversidade e os serviços de ecossistemas, um dos mais importantes desafios que o mundo atualmente enfrenta a par das alterações climáticas”, foi assinada por 15 empresas nacionais em setembro, que apresentaram os seus compromissos individuais em dezembro.
Em concreto, a ANA Aeroportos de Portugal, Corticeira Amorim, grupo Crédito Agrícola, CTT, ECOINSIDE, EDIA, EDP, Herdade dos Grous, grupo Jerónimo Martins, LIPOR, NBI – Natural Business Intelligence, REN, The Navigator Company, Trivalor e VdA. E “há mais empresas interessadas em aderir à iniciativa”, adianta ao Negócios Mafalda Evangelista, head of Sustainability Knowledge do BCSD.
A responsável acrescenta que um dos objetivos do Conselho Consultivo do Act4Nature é “trazer mais empresas para esta iniciativa e termos compromissos mais ambiciosos”. Deste conselho fazem parte por inerência os membros do Comité de Direção (ANA, EDP, Jerónimo Martins, LIPOR, REN, The Navigator Company e o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos – CIBIO), mas também a CIP, o Ministério do Ambiente e Ação Climática e o ICNF, bem como várias ONGA e parceiros científicos.
Compromissos SMART
Como já referimos, além da concretização dos dez compromissos comuns do Act4Nature Portugal, as empresas reforçam o seu empenho através de um conjunto de compromissos individuais SMART: Specific/Específicos; Measurable/Mensuráveis; Additional/Adicionais; Realistic/Realistas e Time-bound/Delimitados no tempo; definidos em alinhamento com a atividade que desenvolvem.
Todos os compromissos individuais das empresas signatárias do Act4Nature Portugal estão disponíveis na publicação que foi lançada na conferência online de 4 de dezembro e que está disponível para consulta no site do BCSD.
A propósito da necessidade de estes compromissos serem mensuráveis, Mafalda Evangelista salienta que “este é um tema bastante complexo, porque não podemos esperar medir a biodiversidade como se mede a tonelada de carbono equivalente”, mas assegura-nos que “há várias ferramentas disponíveis”. Todavia, a responsável frisa que “excluindo as empresas cuja atividade tem relação e impacto direto na natureza e na biodiversidade, todas as outras começam este trabalho por conhecerem como a empresa se relaciona com a biodiversidade, para depois poderem estabelecer compromisso de redução do seu impacto”.
Uma “call to action” urgente às empresas
A expressão é da EDIA adiantando que o objetivo é que as empresas “assumam compromissos com a biodiversidade, integrando nos seus modelos de negócio e nas suas cadeias de valor, ações e soluções para a conservação da diversidade biológica, para o seu restauro, para o uso sustentável, se possível regenerativo, dos recursos naturais, e para uma distribuição justa e equitativa dos benefícios que resultam desse uso”.
Por seu lado, a Corticeira Amorim frisa, também em comunicado, que a adesão ao compromisso Act4Nature se integra na sua missão “de acrescentar valor à cortiça de forma competitiva, diferenciadora e inovadora em perfeita harmonia com a natureza”.
Enquanto os CTT explicam que os seus compromissos individuais estão focados na “contínua sensibilização e comunicação, interna e externa, sobre o tema da preservação da biodiversidade e para o uso sustentável dos recursos naturais”.
Já a The Navigator Company refere que “a empresa pauta a sua atividade por uma atitude permanente de elevada responsabilidade ambiental ao longo de toda a cadeia de valor. Por isso, conservar a biodiversidade e manter o equilíbrio dos ecossistemas são aspetos fundamentais do modelo de gestão sustentável dos seus espaços florestais e das suas unidades industriais”.
Planeta à beira de um ponto de não retorno
Este projeto surge num contexto em que diversos estudos científicos recentes alertam para que o planeta está a perder biodiversidade a um ritmo sem precedentes, aproximando-se rapidamente de um ponto de não retorno, salienta o BCSD.
De acordo com a Avaliação Global realizada pelo Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services (IPBES) sobre Biodiversidade e Serviços de Ecossistema, publicada em maio de 2019, os humanos estão a alterar os ecossistemas da Terra de forma dramática e a um ritmo sem precedentes, com cerca de um milhão de espécies animais e vegetais em risco de extinção.
E o BCDS frisa que as empresas podem contribuir para o desenvolvimento de novas dinâmicas. Para além da sua responsabilidade social corporativa, é do interesse das empresas inovar, uma vez que estas dependem de ecossistemas estáveis e resilientes, e que, da escolha por abordagens diferentes, podem surgir novas oportunidades de negócio.
Os 10 compromissos comuns
1 – Integrar a biodiversidade na estratégia corporativa, fundamentando a nossa atuação no conhecimento científico disponível;
2 – Dialogar com as diferentes partes interessadas sobre as suas expectativas e os nossos impactos, ações e progresso;
3 – Avaliar a biodiversidade nas diferentes dimensões relacionadas com a nossa atividade, utilizando indicadores de impacto direto e indireto, de risco e de desempenho. Quando relevantes para a tomada de decisão, avaliar em termos económicos os nossos impactos e a nossa dependência do bom funcionamento dos ecossistemas;
4 – Promover a integração progressiva da diversidade biológica nas decisões ao longo das nossas cadeias de valor, desde a produção de matérias-primas naturais até à fase final do ciclo de vida dos produtos, após utilização pelos consumidores;
5 – Prioritariamente, prevenir, reduzir e, em última análise, compensar os nossos impactos, visando, caso a caso, a ausência de perda líquida ou até um ganho líquido de biodiversidade nas nossas atividades e áreas geográficas de influência, considerando as necessidades de adaptação dos ecossistemas às alterações climáticas;
6 – Dar prioridade ao desenvolvimento de Soluções Baseadas na Natureza, assegurando que estas são implementadas de forma cientificamente fundamentada e benéfica para a biodiversidade, e promovendo a variedade dessas soluções;
7 – Integrar a biodiversidade no nosso diálogo com os decisores políticos de forma a fomentar a sua progressiva consideração nas políticas públicas. Quando convidados a fazê-lo, contribuir para as estratégias nacionais de biodiversidade dos países onde operamos;
8 – Sensibilizar e formar os nossos colaboradores sobre a biodiversidade e a sua relação com as atividades que desempenham. Promover e encorajar iniciativas de proteção da natureza e dar o devido reconhecimento pelas suas ações e práticas neste domínio;
8 – Mobilizar recursos e estabelecer parcerias adequadas para apoiar e monitorizar as nossas ações no terreno;
10 – Reportar publicamente a implementação destes compromissos e dos nossos compromissos individuais apresentados.