Atualmente, 55% da população europeia está fixada em cidades e espera-se que, até 2050, este número suba para uns abismais 70%. Isto significa que uma porção muito significativa dos recursos disponíveis serão alocados, necessariamente, às cidades.
Mas qual o estado das nossas cidades? Estamos a ir ao encontro dos objetivos traçados pelo Governo e pela União Europeia?
A quota de energia proveniente de fontes renováveis, em Portugal, em 2018, era de pouco mais de 30%, e, em 2017, éramos o quinto país da União Europeia com maior taxa de incorporação de energias renováveis na produção de energia elétrica (54%).
Pois bem, de acordo com o estabelecido no Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC), para que consigamos atingir a neutralidade carbónica, em 2050, temos de, já nos próximos dez anos, reduzir as emissões de gases com efeito estufa entre 45 e 55%, ser 35% mais eficientes energeticamente, elevar para 47% a nossa dependência de energias renováveis e, ainda, aumentar em 20% a utilização de renováveis nos transportes.
Ora, estes são objetivos muito ambiciosos, mas, também, bastante realizáveis. No entanto, tal implica que repensemos as estruturas mais responsáveis pelos nossos gastos energéticos: as cidades.
É aqui que surge uma mudança importante de paradigma: a implementação do conceito de smart city nas cidades convencionais, preconizando a utilização da tecnologia de modo a criar cidades mais eficientes e mais preparadas para responder às necessidades dos seus cidadãos, tendo como conceito de fundo o respeito pela sustentabilidade ambiental, económica e social.
É, pois, fundamental explorar as diversas vertentes que compõe as smart cities, como IoT (Internet of Things), eficiência energética, mobilidade elétrica, energias renováveis, eficiência hídrica e economia circular, investindo, por exemplo, em sensores de iluminação pública, de semáforos, de contentores do lixo e sistemas de rega que permitam otimizar o trânsito, as recolhas de resíduos, os gastos com energia e o consumo de água.
Devemos, ainda, reforçar a aposta na instalação de centrais fotovoltaicas junto dos locais onde a energia produzida será utilizada, as unidades de autoconsumo, de modo a diminuir as perdas energéticas na rede e a baixar os custos para os consumidores, transformando cada cidadão e espaço da cidade em prosumer (em simultâneo produtor e consumidor de energia), ao invés de apostar na criação de mega centrais de produção de energia, afastados das cidades, em zonas agrícolas.
Na vertente de eficiência hídrica, as cidades precisam acabar com as perdas nos sistemas de distribuição e reutilizar a água que é desperdiçada nos efluentes líquidos, começando a olhar para este recurso como algo que é cada vez mais escasso.
Por último, o alargamento das hortas urbanas, de modo a que as cidades consigam produzir parte dos seus alimentos, implementado o princípio de produção local e usando os resíduos orgânicos produzidos na própria cidade como fonte de matéria orgânica para essa produção, permitirá fechar o ciclo e caminhar para uma verdadeira economia circular.
Planear, construir e reconverter cidades é, assim, essencial para, por um lado, descarbonizar as cidades e reduzir o consumo energético, diminuindo a pegada ecológica, otimizando a utilização de recursos e fazendo baixar os custos com energia e, por outro, diminuir a poluição atmosférica, impactando direta e positivamente a saúde dos cidadãos.
António Cunha Pereira (CEO | ECOINSIDE)